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Ana Paula Valadão

avalia a igreja evangélica brasileira 

 

Numa conversa tranquila e agradável, a pastora, que está morando atualmente nos Estados Unidos, confessa que seu coração está permanentemente ligado no Brasil e analisa a qualidade do crescimento do número de evangélicos na nação verde-amarela. Fala de louvor, de vocação e sobre o 13º álbum do seu ministério, intitulado "Aleluia", gravado no último dia 17 de julho, na Festa do Peão de Barretos, em São Paulo.

Estatísticas apontam que o Brasil caminha para se tornar uma nação de evangélicos. Avaliando a qualidade deste crescimento, acredita que a igreja evangélica está preparada para este momento?

O crescimento da Igreja Evangélica no Brasil é realidade. Há alguns anos, éramos uma minoria, até mesmo perseguida. Meu pai, como seminarista, foi missionário no interior de Minas Gerais. Ele conta como éramos vistos como "seres de outro planeta", como gente perigosa, e as pessoas demoravam a abrir suas casas, suas vidas, para relacionarem-se com um crente. Ele diz que algumas vezes o templo da Igreja foi apedrejado, e o que construíam de dia era destruído de noite.

Hoje não é bem assim. Ainda somos odiados pelo mundo, como o Senhor Jesus foi e disse que seríamos também. Mas conquistamos muito espaço na sociedade, nossas Igrejas são reconhecidas, temos cada dia mais espaço na mídia, e as pessoas estão mais abertas para algo novo, para romper até mesmo com as tradições por causa da Verdade, que é a pessoa de Jesus, e, não, um conceito acerca dEle. 

Michael W. Smith

"O que conta de verdade não é o número de discos que você vende, mas o número de vidas que você alcança e transforma"

 

Verdade e amor. Essas duas palavras podem resumir quase que de forma perfeita o sentimento que a música e a figura do pastor, cantor e compositor norte-americano Michael W. Smith transmitem a quem assiste a uma de suas apresentações - ou, melhor dizendo, ministrações. No Jesus Vida Verão deste ano, o público brasileiro pôde mais uma vez comprovar a força da mensagem de Jesus transmitida pela boca, pelas mãos e pelo talento de Michael.Vencer barreiras, aliás, não tem sido difícil para este pastor nem para sua música. Ele já cantou para presidentes de nações e lideranças religiosas de todo o mundo. Já ganhou todos os prêmios que um músico pode almejar - nada menos que um American Music Award, três Grammy ® Awards (de 13 nomeações), 44 Dove Awards e 33 "No. 1" hits de rádio. Além disso, conquistou 16 discos de ouro e cinco de platina pelas vendas na carreira, que se aproximam dos 15 milhões de cópias dos seus 22 álbuns. Mas Michael não contabiliza seu sucesso pelas cifras, e sim pelas vidas ganhas para Jesus.

As pessoas estão recebendo a mensagem do evangelho com muito mais facilidade do que no passado, quando éramos, como evangélicos, vistos com muito preconceito.
Este crescimento dos evangélicos vem com muitas coisas boas, mas também traz seus problemas. São muitas igrejas independentes, que caminham sozinhas, fazendo o que querem, sem preparo teológico, que acabam marcando a vida das pessoas com erros pequenos e que, com alguma orientação, seriam evitados. Se conseguíssemos caminhar mais juntos, na essência que nos une, apesar das diferenças, poderíamos evitar muitos absurdos que existem por aí.
Outra característica deste crescimento é que muitas vezes as pessoas têm se aproximado de Jesus em busca do suprimento de alguma necessidade. Esta é uma realidade do nosso país, carente de justiça social, de relacionamentos familiares saudáveis, com vidas desestruturadas por tantos motivos. As pessoas vão a Cristo pedindo um socorro e este deveria ser apenas o primeiro passo. Depois, nossas igrejas deveriam aprofundá-las no ensino do que é uma vida verdadeiramente cristã, de um seguidor de Jesus. A pessoa nasce de novo, e precisa dar o segundo, o terceiro passo. Sair da superficialidade das nossas necessidades e alcançar a maturidade em Cristo. Vem muito mais gente por aí! Precisamos estar preparados como líderes, como membros uns dos outros, para acolher e levar as pessoas mais fundo na vida com Deus.


Esse crescimento seria resultado de uma maior flexibilidade da igreja evangélica, sobre diversos assuntos?


Pode ser que sim, pois em algumas cidades que visitei onde só existia um tipo de denominação evangélica, cheia de proibições do tipo: "não pode jogar bola, não pode isso ou aquilo", o que encontrei foi um grande número de "desviados". Pessoas que um dia frequentaram a Igreja, mas saíram e não querem mais voltar por causa do legalismo, que é simplesmente a obediência externa às regras, e, não o relacionamento com a pessoa de Jesus. Às vezes penso (e posso estar errada nisso) que essas pessoas não tiveram um encontro com Cristo, porque o encontro com Ele é sempre libertador! Elas devem ter se encontrado com sistemas humanos que as marcaram negativamente, e acham que Deus também é assim, castigador, pronto a condenar nossos pequenos "deslizes". O acesso a Igrejas que sejam menos apegadas à obediência externa a regras facilita a conversão de muitas pessoas.
É claro que não podemos abrir mão daquilo que é essência, dos valores do Cristianismo que Jesus ensinou, e que não podem faltar na vida de quem se intitula cristão. Valores como verdade, honestidade, fidelidade, bondade, generosidade, amor ao próximo, fazem parte dessa essência. O que está ao redor disso é periférico e pode mudar de acordo com a cultura, com o contexto das gerações. Forma de culto muda, mas a essência não. Os sons, os ritmos, os estilos musicais mudam, mas a essência de quem adoramos, não. O modo de vestir muda, mas a essência de ser decente não. É difícil uma geração aceitar as mudanças que a próxima vai trazer, mas, guardando a essência, podemos mudar sem medo. A maioria das igrejas evangélicas têm-se aberto para mudanças e isso atrai as pessoas.


Enquanto os evangélicos no Brasil crescem, vemos que existem ainda muitos locais no mundo onde a Palavra de Deus não é conhecida ou nem pode ser pronunciada. Como os brasileiros podem ajudar estas nações?


O Brasil é um dos melhores países para enviar missionários! Somos um povo flexível, de fácil adaptação cultural. Somos bem-vindos e podemos entrar em lugares muito fechados para outras nacionalidades. Somos vistos com carinho, como pessoas alegres, humildes, não arrogantes, de fácil relacionamento. Somos o país do futebol, esporte amado no mundo inteiro. É só vestir uma camisa da Seleção Brasileira que encontramos o favor dos agentes de imigração onde quer que formos. Além disso, o crescimento da Igreja Evangélica brasileira tem possibilitado um investimento financeiro cada vez maior no treinamento e envio de missionários. A Igreja brasileira tem muito para compartilhar com outras nações daquilo que Deus tem feito na nossa história, encorajando outros onde a Igreja é perseguida, é minoria e ainda não tem o espaço que conquistamos. Tenho viajado muito para fora do Brasil, e sei que outros ministérios de louvor e pregadores brasileiros têm sido enviados também para abençoar outros povos com o testemunho e a unção que Deus tem nos dado aqui.

 

Comparando a saúde espiritual com a saúde física, podemos dizer que a igreja tem muitos obstetras e poucos pediatras; como fazer para mudar isso?
 

É isso mesmo! Uma grande vitória é ver alguém nascer de novo, mas depois precisamos acompanhar esses "bebês espirituais". Jesus nos disse que era para fazermos discípulos de todas as nações, ensinando-os a guardar aquilo que Ele nos ensinou. Ou seja, fazer discípulos e ensiná-los a guardar os mandamentos de Jesus é caminhar junto, é mostrar com a vida, com a convivência, com o estudo da Palavra, com uma vida de oração comunitária, o que é seguir a Cristo. É muito mais do que fazer um apelo num culto para quem quer se converter. Precisa haver uma conexão, criação de relacionamentos, onde seja possível esse discipulado. A Igreja brasileira tem tentado vários modelos para alcançar isso, e muitas vezes tem sido bem-sucedida. É maravilhoso ganhar alguém para Jesus e depois ver esta pessoa envolvida na Igreja, crescendo espiritualmente, sendo tratada, curada, amadurecendo e se tornando também uma ganhadora de almas que faz discípulos.


Neste contexto, nos dias de hoje dizer que é ‘evangélico' virou moda. Quem somos nós para julgar, mas o que vemos é que há muito burburinho e pouco testemunho...


Precisamos ter mais cuidado, por exemplo, para não expor em nossos púlpitos pessoas que acabaram de se converter e que ainda não têm a experiência necessária com Cristo para ensinar outros. É preciso um tempo para ter a fé provada, fazer as renúncias necessárias para seguir Jesus. O caminho continua apertado e estreito, e precisamos ensinar isso. Testemunhar conversão deve ser feito por alguém que realmente andava em um caminho, em uma direção, e mudou de rumo, mudou a vida.

 

O Diante do Trono grava o seu 13º CD, Aleluia, desta vez em Barretos, São Paulo. Qual é o tema central e o que ele tem de diferente dos outros?


O tema central desta gravação é que precisamos escolher louvar em toda e qualquer situação. O nome do CD, "Aleluia", é uma expressão que muitas vezes repetimos sem entender o seu significado. Aleluia é um comando: Louvado seja o Senhor! E é fácil louvar quando tudo está bem. É fácil louvar no culto, quando todos cantam junto com a gente. Temos que escolher abrir a boca e dar "aleluia" no nosso dia a dia, quando não sentimos vontade, quando o natural seria reclamar, se entristecer e se calar. Escolher louvar é nosso desafio. Deus quer uma adoração completa, que não se restringe a locais ou momentos de hora marcada. O lugar de louvar é todo lugar. O altar é nosso coração, e ele deve estar cheio de louvor. O apóstolo Paulo nos ensina a nos enchermos do Espírito falando Salmos, entoando hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus de coração, ou em outra versão, fazendo melodia em nossos corações. Mesmo que as circunstâncias sejam contrárias, podemos olhar para o nosso maravilhoso Deus, e Ele é sempre digno de ser adorado. Nele encontramos a inspiração para louvar em todo tempo.


Por que gravar em Barretos?


Há alguns anos tenho percebido que Deus quer nos levar aos lugares onde acontecem as grandes festas do Brasil, para ali fazermos festa para o nosso Deus! Ele é entronizado nos louvores do Seu povo, e assim declaramos "venha a nós o Teu reino!". Declaramos que Seu nome está acima de todo nome, e que só Jesus é digno de ser adorado! Barretos é a sede de uma das maiores festas do país e do mundo. Ali fica a grande arena da Festa do Peão de Boiadeiro. Quando recebemos o convite do Conselho de Pastores e da Prefeitura de Barretos para irmos ministrar ali, percebemos a grandeza desta oportunidade. Não estamos indo apenas para ministrar para aquela cidade ou região, mas, com o evento da gravação, a Igreja do Brasil foi mobilizada e muitas caravanas estão indo para adorar e orar ali. Muita gente se juntou a nós nos propósitos de consagração, jejum e intercessão, e cremos que o Brasil vai sendo sarado à medida que a Igreja, unida e reunida, adora ao Senhor.


Nesses 13 anos de Diante do Trono, quais foram as maiores mudanças, principalmente no que tange ao comportamento do público?


No começo, lidávamos muito mais com os fãs. Hoje, as pessoas estão mais conscientes de que acontecem os "shows gospel", mas também de que nossa motivação é diferente dos shows seculares que elas costumavam frequentar. Outra mudança nesses anos foi devida ao próprio crescimento dos evangélicos no país. Hoje é comum termos eventos gospel patrocinados pelas prefeituras, que possuem verbas para eventos culturais. Somos reconhecidos como parte importante da cultura, e nossos eventos podem alcançar a todos, com entrada franca.


Você e seu marido Gustavo partiram em 2009 para os Estados Unidos. Como está sendo esse momento na sua vida?


Queremos envelhecer e no final da nossa vida olhar nos olhos e dizer: "Fizemos tudo para realizar os sonhos um do outro". O Gustavo é meu grande apoiador, sempre me encorajando a cumprir os sonhos que Deus colocou no meu coração. Sei que não são muitos os homens que seriam capazes de viver e apoiar uma mulher com tanta evidência como eu. Ele lida bem com isso e me encoraja, me protege. Por isso, chegou o tempo de eu estar com ele para realizarmos um de nossos sonhos, que eram os estudos dele. Ele é muito inteligente, tem dois cursos superiores, é advogado e pastor. Começou duas vezes a fazer uma pós-graduação, mas a rotina no Brasil é muito intensa para nós, e não conseguiu continuar. Nas nossas férias, sempre conversávamos sobre o que faríamos se tivéssemos outra oportunidade de vida. Sonhávamos juntos em parar tudo e passar um tempo fora do Brasil, só nós e nossos filhos, e que nesse tempo ele pudesse estudar, e eu, ficar em casa. Achávamos que era impossível, mas Deus foi confirmando e chegou o tempo. Estamos vivendo esse sonho. Às vezes, precisamos lembrar uns aos outros do que Deus fez e falou para que estivéssemos ali, fora do Brasil, pois sentimos muita saudade. O mais difícil é ficar longe das pessoas que amamos e que nos fazem ter aquele senso de pertencimento. Ali, muitas vezes me sinto só e sem "pertencer". Mas o tempo vai chegar quando vamos voltar para casa, no Brasil, e tenho tentado "curtir" esta estação de nossas vidas.


Como tem sido para você ministrar em tantos países nos últimos tempos?


Não tenho ficado parada, como muitos pensam - e até eu gostaria de vez em quando! (risos). Tenho viajado muito pelo mundo afora, e tenho que levar meus dois filhos a tiracolo. Quando vou para outros países ministrar, eu sinto que estou vivendo o cumprimento de promessas de Deus para minha vida, desde a minha infância. É maravilhoso, ainda que seja trabalhoso! Horas e horas em aeroportos, avião, imigração, mas vale à pena. Tenho visto culturas tão diferentes adorarem a Deus com intensidade e sem barreiras. Somos uma família e Deus está Se movendo em toda a Terra. Amo ver isso e aprendo com meus irmãos por onde eu vou. E eles amam ouvir e ver um pouco do que Deus tem feito em nosso Brasil. Acho que isso tem sido um ponto forte por onde passo: compartilhar o testemunho do Brasil para encorajar a Igreja nas nações.


Hoje muitas ideologias e metodologias nascidas nos Estados Unidos vêm influenciando a igreja no Brasil. Como você avalia esse fato?

 

Os EUA são uma referência de país protestante e de lá vêm muitas das músicas que cantamos, ensinos que lemos em livros traduzidos, preletores etc. É um país rico e a Igreja tem recursos financeiros para produzir material de qualidade. É claro que a Igreja norte-americana tem muitos problemas e defeitos e, como sempre, precisamos filtrar e ter cautela para não nos abrirmos para tudo o que se diz e faz. Mas tenho aprendido a reconhecer suas qualidades. Eles são generosos, ofertam e sustentam ministérios e missões não apenas no seu próprio país, mas em todo o mundo. São muito organizados. Fazem tudo muito bem feito. Tenho encontrado irmãos e ministérios que são intensamente comprometidos com Deus e que me inspiram bastante. Acima de tudo, tenho sido impactada pela adoração nas Igrejas ali. Suas letras, em celebrações ou introspecções, exaltam o Senhor. Os cânticos que fazem mais sucesso lá são de adoração profunda. Eles amam cantar a Palavra, e declarar que nosso Deus é lindo, santo, todo-poderoso. Eles encontram força e consolo olhando para Ele.


Como analisa as diferenças e os pontos em comuns entre a igreja americana e a brasileira?


Existem coisas semelhantes nas nossas Igrejas, mas culturalmente o norte-americano é mais frio, mais reservado. Na maioria dos nossos cultos no Brasil somos mais extrovertidos e agitados. Sem contar os cultos dos negros lá, que são mais barulhentos como nós (risos). Essa também é uma grande diferença entre nosso país e os EUA. Aqui, não conheço igrejas de brancos ou igrejas de negros. Estamos todos misturados e isso é muito bonito. Lá, ainda lutam contra uma segregação racial que acontece até na Igreja. Existe comunhão e respeito, e pastores e cantores negros e brancos se encontram em congressos etc. Mas existem poucas igrejas em que as raças estão misturadas. A maioria é bem homogênea, com brancos congregando entre si e negros congregando entre si. A Igreja latina também fica isolada. Como família, nos sentimos mais à vontade frequentando uma igreja em que as raças se misturam, que se parece bastante com a nossa Igreja no Brasil. Tenho visto muitos movimentos da Igreja norte-americana engajando os cristãos em protestos políticos, e acho isso maravilhoso.
Eles vão às ruas mesmo, lutando contra leis como a do aborto. Podemos aprender com eles nisso também. Na minha opinião, isso não significa que os cristãos norte-americanos estejam certos em apoiar um candidato só porque ele é anti-aborto, mas por outro lado é a favor de guerras pelo mundo a fora. Mas, admiro o engajamento deles, eles têm influenciando e feito sua voz ser ouvida na sociedade civil.


Como foi renunciar a muitas coisas em sua vida, inclusive à sua faculdade, para poder responder ao chamado de Deus?


Minha família reconhecia o chamado de Deus em minha vida e me apoiou quando decidi renunciar à carreira de Direito. Eu queria fazer o bem, e lembro-me de ler em Provérbios 31 que eu deveria erguer a minha voz em favor do oprimido, defender o direito do necessitado. Acho que interpretei errado (risos). Deus me deu o dom da música e Ele estava me chamando para erguer a minha voz literalmente! Quando tranquei a matrícula na faculdade e fui para o seminário, senti que estava no caminho certo para o cumprimento dos propósitos de Deus para minha vida. Eu não sabia o que viria pela frente. Não imaginava a dimensão que Deus daria à minha voz. Fiz tudo passo a passo, seguindo o que cria ser a direção de Deus, e minha família me apoiou em cada momento, mesmo os de incerteza. Valeu a pena, e faria de novo. Além de cantar em favor de muitas causas importantes, com os recursos financeiros que Deus tem me dado tenho podido ajudar vidas necessitadas e oprimidas aqui e na Índia, por exemplo, onde mantemos um trabalho de recuperação de meninas, que antes estavam na prostituição. Deus é poderoso para fazer sempre infinitamente mais, além de tudo quanto pedimos ou pensamos, não é mesmo?


Sendo uma pessoa pública, a mídia constantemente observa suas atitudes. Como avalia esta exposição da sua pessoa e as críticas quanto ao seu ministério?


Quanto mais influência, menos privacidade. Existe um preço a pagar quando tudo o que falamos é ouvido por muitas pessoas. Tenho que estar preparada para as críticas. Nós, seres humanos, gostaríamos de ser aceitos e admirados por todos, mas isso é impossível. Eu procuro não ler o que dizem contra mim ou, se leio, não deixar cair no meu coração, a não ser que seja uma crítica construtiva. Se alguém falar algo com a intenção de me melhorar estou aberta para isso. Mas quem me critica para me destruir, eu não considero. Tem gente que, ao invés de me procurar para me ajudar, faz carreira de crítico negativo, se promovendo ao falar mal dos outros. Esse tipo de gente, por mais inteligente que seja, não merece ser ouvida.



O que você aprendeu de mais importante até o momento com esta experiência no exterior?



Tenho aprendido muitas coisas nos pequenos momentos do meu dia a dia. Mas, se posso citar uma delas, acho que dou mais valor às pessoas. Quando venho ao Brasil, valorizo mais quando uma pessoa se aproxima de mim. Eu acho que meu ministério começou cedo e fui rapidamente exposta às multidões. Não foi fácil lidar com toda essa exposição. Isso me fechou. Agora, meu coração está mais amolecido, mais curado, e aprecio melhor cada oportunidade de olhar nos olhos de alguém, sem medo, mas vendo cada encontro como um privilégio. Deus tem aberto os corações das pessoas para mim, e isso é maravilhoso! Quero vencer a cada dia mais as minhas barreiras no meu contato com o próximo.

Nesta entrevista exclusiva, Smith fala de seu trabalho, de alguns dos grandes problemas da sociedade atual e de sonhos, para si e para o mundo. Na tarde calorenta de Vila Velha, onde à noite ele se apresentaria no maior festival de música gospel do litoral brasileiro, aquele que talvez seja o maior ícone do gênero no planeta hoje conversou com nossa equipe com toda a sinceridade e simplicidade que o caracterizam, não se furtando a nenhum assunto, nem mesmo os mais delicados. Confira.



Sabemos que você é muito preocupado com as crianças e jovens, para os quais, inclusive, desenvolveu um projeto que veio a dar origem ao selo Rocketown. Mas a Igreja tem encontrado dificuldades em atrair e manter em si especialmente os jovens. O que você acha que as lideranças deveriam fazer a respeito?

Bem, eu posso falar sobre as igrejas norte-americanas, porque são as que eu conheço melhor. De um modo geral, acho que a Igreja nos Estados Unidos não tem feito um bom trabalho nesse sentido e essa foi provavelmente uma das razões pelas quais eu comecei o projeto Rocketown, que era uma espécie de night club para os jovens. E nós conseguimos atrair muitos jovens, porque não os julgamos. Nós apenas os amamos como eles são, pelo que eles são. Não importa de onde eles vieram, o que hajam feito, experimentado ou vivido, se estiveram na prisão ou não, se usaram drogas ou não. Nós apenas os acolhemos e ajudamos, sem juízos de valor. Creio que o amor incondicional é a base do sucesso dessa iniciativa.



Para quem se preocupa com crianças e jovens, as drogas e a violência são a questão mais gritante. Nós temos no Brasil uma geração inteira sendo devastada pelo crack. Qual você acha que deve ser o papel da igreja nesse contexto? Ela deve se envolver nessa luta?


Creio que algo não está funcionando bem, definitivamente. Este é um problema muito grave, em todo o mundo. Os governos podem até não estar fazendo algo a respeito, mas eu acredito que isso é, certamente, uma responsabilidade da Igreja. O que precisa ser feito em primeiro lugar é realmente orar muito por eles, pela libertação destas vidas. Como igreja, temos que interceder fortemente por elas, com constância e firmeza. Em segundo lugar, temos que orar muito também para termos sabedoria sobre como agir de forma efetiva, de acordo com os planos divinos, pois só assim nossa ação colherá os resultados necessários.



Sua opinião tem relação com sua experiência própria, com o período em sua juventude em que você esteve desviado, envolvido com drogas? Como isso aconteceu a alguém nascido e criado solidamente em um lar cristão?


Eu simplesmente fui enganado. Se eu pudesse eleger um nome para o diabo, eu o chamaria de O Grande Enganador. Achei que poderia brincar com o fogo e acabei me queimando. Eu era empenhado na obra, um louco por Jesus nos anos 70. Mas comecei a andar com as pessoas erradas e acabei na pior, sem conseguir sair. Agradeço a Deus pelas orações dos meus pais. Eles oraram muito por mim até 1979, quando consegui melhorar. Meus pais nunca deixaram de se ajoelhar orando por mim, nunca desistiram de mim. Eu realmente acredito que foi isso que ajudou a mudar a situação. Orar por seus filhos e amá-los incondicionalmente é hoje o melhor conselho que posso dar a todos os pais que se vejam em uma situação semelhante. Amá-los nas mais diversas adversidades. Eu me converti aos 10 anos, mas, em 1979, tive um verdadeiro encontro com Deus e só assim me afastei das coisas que me prendiam.



A música é muito eficiente como primeiro passo para atrair os jovens para a igreja, mas como fazer para que sua fé não permaneça superficial, ou seja, como dar um passo além e consolidá-los na fé verdadeira e no propósito de viver uma vida com Deus?


Eu não acredito que os jovens sejam superficiais em sua fé. Eu acredito que se isso acontece é porque a própria igreja é superficial, ou faz um trabalho superficial. Há muitas igrejas superficiais e o jovem percebe que aquilo não é real. Então, ele se afasta. A igreja precisa viver o que prega. Quando o jovem encontra isso, ele permanece.

Você já vendeu mais de 10 milhões de discos. Este número significa algo mais para você do que uma simples cifra?


Para ser sincero, eu nem sei quais são os números de vendagem de discos. Claro que isso proporciona conforto material, estabilidade, mas isso não é o principal, não é o que importa realmente. Vender muito tem significado apenas por dois aspectos: proporciona credibilidade, e, muito mais importante do que isso, proporciona também uma plataforma de visibilidade, multiplicando o alcance da mensagem. Vender tanto ou mais do que astros do rock ou outros artistas seculares é importante apenas por permitir fazer do palco uma plataforma para transformar vidas, e não a sua própria vida. O que conta de verdade não é o número de discos que você vende, mas o número de vidas que você alcança e transforma.

O que é mais importante num país como o Brasil, que tem uma enorme mistura de religiões e onde o protestantismo, embora crescente, ainda não é maioria: consolidar as vidas já convertidas ou converter aqueles que ainda não conhecem Jesus?


Eu penso que temos que ter paixão por fazer ambos os trabalhos. É realmente muito importante cuidar dos convertidos, especialmente dos recém-convertidos, que são como bebês na fé. É preciso um grande trabalho de consolidá-los na fé, apoiá-los e prover meios para que eles avancem e amadureçam. Mas não podemos jamais esquecer das outras pessoas que estão por aí, sofrendo sem saber que Jesus pode mudar suas vidas. Nós temos a resposta que elas buscam. Acho também que esse é um problema que acontece em todo o mundo: há pessoas e igrejas que se dizem verdadeiramente crentes e na realidade não são. Isso não é uma exclusividade do Brasil. Existem igrejas estranhas em todo o mundo. A única coisa que pode mudar esse quadro é a oração. As igrejas e crentes brasileiros precisam se conectar, se unir para orar muito por sua nação, por seu país.

Como fazer para que o avivamento trazido por apresentações como as suas permaneça dentro das pessoas depois que as luzes se apagam e elas retornam ao seu dia a dia?

Eu penso que no momento em que você sabe quem você é em Cristo, você conhece 90% da sua identidade. Mas há um mundo louco e difícil lá fora. É preciso estar em lugares e com pessoas que comunguem desse sentimento, que sejam verdadeiros crentes. Não se pode caminhar sozinho. É fundamental caminhar em grupo, ter amigos, amigos verdadeiros, que orem com você, estudem com você, apoiem você, assim como você a eles. É muito bom que a igreja esteja comprometida em fomentar isso, mas esse grupo de amigos não precisa ser necessariamente apenas a ou da igreja. Pode ser um pequeno grupo. Eu e minha esposa, por exemplo, integramos um círculo de oito casais que estão sempre juntos. Há mais de 20 anos que somos amigos e fazemos várias atividades juntos. Eu não sei o que faríamos uns sem os outros. Somos amigos verdadeiros. Mas eu também tenho grandes amigos fora da igreja e até mesmo outros que não são crentes.



O Brasil tem sido visto no exterior como uma nova alternativa de visão de mundo, talvez mais humana e justa. Você acha que a igreja brasileira pode também se apresentar como uma nova visão de igreja?


Eu já estive no Brasil outras vezes, há muito tempo, e percebo que é um país em pleno progresso. Às vezes acho que a economia brasileira é melhor do que a norte-americana (risos). Pelo menos, é o que tenho ouvido: que você estão se saindo muito bem. Vocês têm feito grandes avanços e apesar de ainda haver questões a serem resolvidas, como você mesma citou - as drogas, a violência -, muitos países também têm, e eu fico feliz que o seu povo esteja desempenhando muito bem o seu papel, fazendo a sua parte. Eu já estive no Brasil cinco vezes antes, e confesso que me surpreendo a cada vinda. Seu povo é caloroso, acolhedor e é surpreendente ver quantas pessoas admiram meu trabalho, oram pelo meu ministério. Eu fico extremamente feliz em cooperar de alguma forma para o crescimento espiritual das pessoas no Brasil. Quanto à igreja brasileira, acredito que seu maior desafio é o mesmo que todas as outras igrejas do mundo: crescer em união e saudavelmente como corpo de Cristo. Não importa que haja múltiplas denominações ou que tenhamos diferenças sobre algumas questões ou ideias teológicas, mas sim mantermos o foco em servir a Deus e amar o próximo, como orienta a Sua Palavra. Isso é o que realmente conta.

Você é um músico talentoso e sua música alcança com facilidade mesmo as pessoas que não são crentes, tocando-as de alguma forma. Embora se diga que a música, como o amor, é uma linguagem universal, sabemos que a língua pode ser uma barreira para os artistas, o que não acontece no seu caso. Por quê?


Primeiro, porque cantar, compor, são dons de Deus, e usamos esses dons para expressar nossos sentimentos com relação a Ele. Isso não tem nada a ver com religião - portanto, uma barreira a menos. Além disso, vivemos num mundo cada dia mais difícil, em que as pessoas estão prioritariamente preocupadas em agradar a si mesmas, onde os valores estão sendo distorcidos ou perdidos e vemos pessoas crescendo sem parâmetros adequados , sem referências concretas do que é certo ou errado... Enfim, nossa música tenta entrar nessa lacuna, oferecer ajuda às pessoas para que encontrem seus caminhos e construam uma vida mais leve e saudável. Queremos encorajá-las a fazerem essas mudanças.

Falando em mudanças,  o início de ano quase sempre inspira as pessoas a buscarem novas metas e fazerem as mudanças que sentem ser necessárias. O que você almeja para 2013?


O início de um ano naturalmente oferece oportunidade para reflexão e sonho. Refletimos sobre as lições aprendidas do ano passado e sonhamos com o que o ano novo pode trazer. Eu acho que todos nós devemos aspirar à grandeza em 2013. E, pensando nisso, quero compartilhar uma citação poderosa e profunda do Dr. Martin Luther King: ‘Todo mundo pode ser grande .... porque todo mundo pode servir'. Então, espero que todos nós possamos nos dedicar à grandeza em 2013 servindo uns aos outros.

Entrevista

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